A falácia da “boa oratória”
Por Cely Fraga
Durante muito tempo, acreditamos que comunicar bem era saber falar com clareza, entonação e domínio de palco.
Nos ensinaram a projetar a voz. A manter uma postura impecável. A ensaiar a melhor versão de nós mesmos.
Mas ninguém nos ensinou a sustentar o que sentimos enquanto falamos.
Ninguém nos treinou para ser verdadeiros diante do outro — e muito menos diante de nós mesmos.
Fomos preparados para parecer prontos.
Mas não para estar presentes.
A performance como defesa
No ambiente corporativo, a comunicação performática foi legitimada como ideal.
É aquele profissional que fala bem em público, articula ideias com fluidez, apresenta dados com confiança e sabe o que dizer em cada reunião.
Mas a pergunta é:
Essa fala nasce da presença… ou da estratégia de sobrevivência?
A performance, muitas vezes, é uma forma de esconder o medo.
Medo de parecer fraco.
Medo de errar.
Medo de ser visto por completo.
Nos tornamos exímios comunicadores do que é esperado.
E péssimos comunicadores do que é verdadeiro.
O custo invisível da performance
Parece inofensivo — mas não é.
A performance constante desconecta.
Ela exige esforço mental, emocional e físico.
Ela bloqueia a espontaneidade.
Ela substitui o vínculo pela estética.
Em ambientes de trabalho, esse tipo de comunicação gera:
- Equipes que evitam conversas difíceis
- Feedbacks que não transformam, apenas corrigem
- Reuniões onde todos falam, mas ninguém escuta de verdade
- Profissionais que são bons em parecer prontos — mas vivem emocionalmente exaustos
No fim, o custo é cultural.
Empresas pagam caro por ambientes que só valorizam quem “se apresenta bem” — mas deixam de escutar quem tem algo importante a dizer.
O que é, então, comunicar com presença?
Presença não é sobre técnica.
Não é sobre volume de voz.
Não é sobre projetar autoridade.
Presença é estar inteiro naquilo que se diz.
É quando a fala está alinhada com o que se sente e se acredita.
É quando o corpo não está em estado de defesa, mas de verdade.
É quando a escuta não é uma pausa para responder — é um convite para acolher.
Presença é quando o outro percebe que você não está tentando convencer.
Você está conectado com o que importa.
No mundo corporativo: presença é cultura invisível
Nas empresas, presença não é “um diferencial”.
É a base da cultura emocional que sustenta o clima, o engajamento e o pertencimento.
Presença se traduz em:
- Reuniões que permitem pausa, silêncio e elaboração — não atropelo
- Feedbacks que constroem, em vez de punir
- Times que não apenas escutam, mas sentem confiança em dizer
- Líderes que não usam a fala para parecer no controle — mas para criar abertura
Treinar comunicação com presença é transformar cultura por dentro.
É ensinar a coragem emocional como competência coletiva.
É alinhar o que se fala nas paredes da empresa com o que se sente nas salas de reunião.
O papel das Core Skills nessa virada
Comunicação com presença é uma Core Skill.
Não é uma técnica complementar.
É infraestrutura comportamental.
Empresas que desenvolvem Core Skills como escuta ativa, expressão autêntica, consciência emocional e linguagem construtiva:
- Reduzem ruídos que viram conflitos
- Aumentam a assertividade sem perder empatia
- Constroem confiança entre áreas e níveis
- Retêm talentos que se sentem vistos, não apenas avaliados
Comunicar com presença é, antes de tudo, reconhecer o outro como legítimo no diálogo.
E por que tanta gente trava?
Porque antes de alguém travar a fala…
alguém travou a permissão.
Desde cedo, fomos moldados para caber.
Fomos elogiados por sermos “contidos”, “adequados”, “equilibrados”.
Quem se emocionava era “intensa”.
Quem discordava era “difícil”.
Quem falava com paixão era “pouco profissional”.
Assim, muitas pessoas se tornaram especialistas em se editar.
E se desconectaram de sua voz mais legítima.
A comunicação performática como armadura
A fala travada não é incompetência.
É defesa.
Ela é o resultado de anos de autocrítica, de medo de errar, de querer agradar todo mundo.
É uma voz que carrega tensão — não por falta de conteúdo, mas por excesso de controle.
E aqui está o ponto mais importante:
Performance sem verdade não convence.
Mas presença com verdade, mesmo imperfeita, transforma.
✍️ O que muda quando a presença entra?
- A cultura se humaniza
- As reuniões se tornam mais produtivas
- O medo de errar começa a dar espaço para a confiança de ser
- As falas ganham peso não por serem ensaiadas, mas por serem sentidas
A comunicação com presença transforma clima, relacionamentos e entregas.
Ela não exige perfeição.
Ela exige disponibilidade.
A pergunta que ninguém faz
Quem você seria se não estivesse tentando parecer pronta?
Essa é a virada.
A comunicação que eu ensino — e vivo — não é sobre ter mais voz.
É sobre ter menos medo de usá-la como ela é.
É sobre não performar autoridade.
É sobre viver a própria presença com integridade.
Se você quer equipes que falem com potência, criatividade e verdade…
Comece criando ambientes onde a presença vale mais do que a performance.